jueves, 10 de julio de 2008

América Latina: entre o mundo do capital e o mundo do trabalho

Roberta Sperandio Traspadini
I. Nosso Contexto Histórico:

A América Latina sempre se caracterizou, desde o seu processo de colonização, como uma terra de lutas permanentes, território da resistência, espaço de múltiplas contradições. Localização territorial da superexploração e da sua força antagônica: a resistência perante a opressão. Terra de lutas vivas e históricas perante a mercantilização de nossos sujeitos. Espaço de lutas abertas contra o mundo da alienação, da reprodução desmedida do capital em seu histórico afã de desumanização do humano. América Latina, solo vulcânico da revolução permanente. Terra do grito, da luta, dos movimentos sociais politicamente organizados perante a avassaladora mercantilização do humano que é posta em prática, objetiva e subjetivamente, desde as múltiplas formas de poder e manipulação do capital.

Continente possuidor de inúmeras particularidades históricas de luta e resistência, anteriores e posteriores à colonização, mas que assiste, na atualidade, a uma “homogeneidade” nas formas de poder impostas pelos donos do capital. América Latina, como todos os outros continentes, se encontra imersa na sociedade de consumo, no plano ideológico e material da produção de valor, enquanto entidade máxima do capital. Capital, valor que se valoriza utilizando como recurso a desvalorização do humano, através da exploração e opressão do trabalho. A valorização do homem-mercadoria, afastado de si mesmo e dos demais. O mundo do capital conseguiu realizar, ao longo de seu desenvolvimento histórico dependente e subordinado no continente, uma ação abertamente desumanizadora, baseada em uma forma e conteúdo atrelada ao jogo de domnação cujas bases centrais sobre as quais edificam sua fonte (que um dia há de secar pela revolução posta em marcha), são: a fragmentação, o individualismo, a competição, a eficiência, a produtividade e intensidade do trabalho, a propriedade privada, o trabalho assalariado, alienado, “produtivo”, “qualificado”, “formal”. Tudo isso em consonância com a noção de valor-trabalho-capital (o trabalho como produto alheio ao sujeito, subjugado às regras do capital, o dinheiro como postulado básico das relações mercantis da sociedade de consumo - o fetiche supremo da realidade capitalista) que está moldado, ao mesmo tempo que molda, pelas relações sociais, históricas e cotidianas, dos sujeitos subordinados, e inseridos a partir do mando da classe que domina, controla e pretende dominar ininterruptamente essa ordem - a classe burguesa -.

É importante dizer que o capitalismo latino-americano e mundial tem em si mesmo o seu progresso e a sua desgraça. Dois lados da mesma moeda. Um progresso, baseado no conceito de modernidade e “civilização”, enquanto desenvolvimento de suas forças produtivas e ideológicas – objetivas-subjetivas – que prescinde cada vez mais dos sujeitos, mas que sem eles não funciona. Assim, o resultado de dita ordem só pode ser a precariedade do trabalho, a marginalidade e exclusão do sector formal da economia na qual está imersa a maioria da população do continente e os altos níveis de pobreza e discriminação gerados por sua própria estrutura de funcionamento. Essa barbárie que brota e evolui como critério de desumanização do humano a partir do poder do capital sobre o trabalho e sua fonte geradora de vida, o trabalhador, faz com que o próprio sistema, metabolismo, do capital seja a válvula propulsora da classe trabalhadora. Válvula propulsora do grito, da resistência, da revolta contra uma ordem que foi histórica e materialmente construída por alguns, reservando o futuro da exclusão e da não pertença à maioria.

Essa gigantesca separação entre a morte em vida proposta pelo capital e a superação deste modelo também protagonizada pela classe trabalhadora, evidenciamos a relação existente entre poder e contra-poder; dominação capitalista e resistência revolucionária.

Com base na dialética do concreto, método de análise que entende a dinâmica de funcionamento geral do capital e as particularidades impostas pelo mesmo em cada região, para cada grupo social, nos ajuda a entender as históricas e materiais, lutas concretas pela libertação postas em prática por nossos povos. O que significa dizer e reforçar que América Latina, não é somente o palco da homogeneidade da sociedade de consumo, do espetáculo, e da forma capital de concepção do valor, desde a alienação, a propriedade privada e o trabalho alienado. Aqui também é o cenário em que se protagonizam, de maneira diversa e cada vez mais unificada, os processos de revolta, resistência e revolução. Ante o mundo da dominação do capital, se ergue, e sempre se ergueu, o mundo da rebeldia da classe trabalhadora. Ante o processo de dominação e de exclusão próprios do capital, se levanta, levantou e jamais deixará de levantar, a força, raiz, dos povos de nossa América que defendem, consciente e organizadamente, seu interesse de classe: a vida, os renovados valores econômicos, sociais, ecológicos, políticos e ideológicos para além do capital.

II. EM DIREÇÃO À TENTATIVA DE UM EXERCÍCIO DIDÁTICO:

Didaticamente poderíamos fazer uma contraposição direta entre o mundo da alienação, colocado em prática pelos donos do capital e o mundo da emancipação, historicamente trabalhado em nosso continente desde nós mesmos, os trabalhadores “explorados” e “oprimidos” pelo capital, que, ao tomarmos consciência e nos organizarmos, enquanto classe que protagoniza suas ações contra os mecanismos da destruição da vida, explicitamos a viva, e vigorosa luta de classes historicamente colocada em movimento em nossa América Latina.

Trabalharemos com a metáfora dos sete pecados capitais desde o mundo do valor como reprodução do capital e desumanização do humano, e as sete virtudes (estratégias) da resistência, sujeitos libertos a partir da construção cotidiana do mundo do trabalho emancipado. Entendemos como opressão a forma que o homem tem de subordinar tudo e todos a seu comando, fazendo, para isso, um uso cada vez maior das múltiplas formas de violência contra os sujeitos e a vida. Em contrapartida, a emancipação do trabalhador é vista, historicamente, como a construção democrática, desde a luta de classes, da ruptura com este mundo e libertação-recuperação do humano, acorrentado, mas não aniquilado, em três relações básicas a serem compreendidas, como dizia Marx: homem-consigo mesmo, homem-natureza, homem-sociedade .

III. O MUNDO DO CAPITAL (MUNDO DO TRABALHO ACORRENTADO):

1º. PECADO: SUPEREXPLORAÇÃO
A exploração é o mecanismo central utilizado pelos capitalistas contra os trabalhadores. Consiste no fato de que o capitalista se apropria do valor produzido pelo trabalhador, condicionando este a uma jornada de trabalho cada vez maior e mais intensiva, estipulando o preço do salários com base na reposição da força de trabalho, a partir do cálculo do custo das necessidades básicas do trabalhador. O valor, nessa construção material do poder da classe dominante, é uma relação histórica e social que tem como base o roubo de uma parte cada vez maior do tempo de trabalho que deveria pertencer ao trabalhador. Apropriação privada de uma relação socialmente determinada com base na exploração do trabalho. Esse funcionamento geral do capital sobre o trabalho vai receber um tratamento particular, no inicio dos vínculos de dependência entre nações soberanas, já na fase imperialista do modo de produção capitalista que receberá por um de nossos principais autores marxistas – Ruy Mauro Marini – o nome de superexploração. A superexploração foi a forma encontrada pelos capitalistas latino-americanos (que no século XXI se projeta inclusivamente nos países tecnologicamente mais desenvolvidos) para compensar suas perdas no jogo das relações econômicas internacionais cujo mecanismo de extração de valor e mais valor era controlado pelos países centrais. Assim, o capitalista da periferia tinha que encontrar uma forma de contrarrestar suas perdas e compensar seus ganhos. Essa forma foi a realização de uma forma de exploração ainda mais perversa. Para além da intensificação e ampliação da jornada de trabalho, o pagamento dos salários na América Latina, desde o nascimento do capitalismo, entre nações soberanas, em nosso continente, não cobre sequer as necessidades básicas do trabalhador. Ou seja, a superexploração é a forma utilizada pelo capitalista da periferia para extrair mais valor nas relações sociais historicamente determinadas, a partir de uma abusiva superexploração do trabalho.

Segundo Ruy Mauro Marini, isto só foi possível devido a algumas particularidades históricas do desenvolvimento capitalista na América Latina:

1) pelas condições particulares da consolidação da dominação colonizadora, que fez com que a mão-de-obra latino-americana, inicialmente escrava, se transformasse em trabalho assalariado mal remunerado;
2) pela grande quantidade de contingente populacional e jovem existente no continente – exército industrial de reservas - (o que permitia aos capitalistas utilizar o recurso da competição entre os próprios trabalhadores, caracterizando os mesmos como qualificados ou não);
3) pela debilidade da organização sindical no continente, melhor dizendo, a estratégia dos nascentes Estados n acionais, vincularem o nascimento sindical ao próprio aparelho estatal; e,
4) pela forma como o desenvolvimento capitalista não esteve pautado no consumo da própria população local e sim na venda ao mercado externo. Isso fez com que a produção se descolasse da circulação e o trabalhador, para se tornar consumidor deveria, desde o inicio das suas relações de consumo, transformar seus salários na dependência do crédito e de suas cada vez maiores parcelas correspondentes ao mesmo consumo.

É importante ressaltar que este foi um mecanismo utilizado pelos capitalistas latino-americanos, como compensação das perdas de seus lucros nas relações internacionais com os países tecnologicamente mais avançados. Por estas características, Ruy Mauro Marini construiu sua reflexão teórica sobre o processo de desenvolvimento capitalista latino-americano conceitualizando o mesmo como dialético-dependente, baseado na superexploração do trabalho. O que teríamos que estudar com profundidade é toda a resignificação do sentido da superexploração na atualidade já que a precariedade e flexibilização do trabalho no setor formal da economia e a ampliação do número de trabalhadores no setor informal, cada vez mais formalizado, dão outra dimensão à caracterização dos mecanismos de exploração do trabalho por parte do capital.

2º. PECADO: ALIENAÇÃO
Desde o nascimento do modo operante do capital, muitos homens foram acorrentados por outros poucos homens para fazer funcionar uma nova ordem na qual o valor não estava colocado nas relações humanas baseadas na cooperação, mas sim na reprodução capital sustentada na apropriação privada das coisas e da vida como um todo. Pouco a pouco esta sociedade dominada pela burguesia foi avançando e conseguindo alcançar os seus objetivos: a valorização ampliada do mundo das coisas, da mercadoria, a todas as esferas de “vida” dos sujeitos, subordinando seus seres a seus bens materiais. O ter superior ao ser. O estar - pertencer, submetido às regras da apropriação privada dos meios de produção, da terra, de todos os espaços que permitam uma maior valorização de sua riqueza: o capital. Para isto, foi necessário ir consolidando as condições materiais e ideológicas que erguiam a torre de seu poder. As máquinas, o avanço tecnológico (trabalho morto) e a especulação são os mecanismos de opressão direta contra a força maior, antagônica ao mundo do capital, a força do trabalho humano (trabalho vivo). O homem foi, ao longo do desenvolvimento das forças de produção capitalista, sendo afastado da produção através da implementação da flexibilização e precariedade do mundo do trabalho. Cada vez mais a obra lhe pertence menos. Esta separação formal entre a concretização da produção pelo humano e a apropriação da mesma por ele, recebeu o nome de alienação. No entanto, o homem, como conseqüência desta forma de ser subordinada ao mundo das coisas, foi sendo introduzido à alienação em todos os espaços de sua vida cotidiana. Os aparelhos ideológicos e materiais utilizados pelos donos do capital para continuar com o seu projeto de lucro desmedido, foram estruturados para a concretização de tal proposta no pulsar da vida de todos. A educação, a saúde, a cultura, a família, a religião, todos os espaços formais de relação dos sujeitos “acorrentados”, serviram, servem, como mecanismo de reprodução ampliada do capital. Assim, o homem alienado se vê na grande encruzilhada de sua vida: Está alienado de si mesmo, alienado na sua relação com a natureza, alienado na sua comunicação com os demais homens, também alienados.

Para facilitar a forma de exposição do tema da alienação,dividimos o tema em três eixos centrais. E explicaremos o tema a partir da retirada do outro de seu protagonismo nas várias frentes que lhe toca protagonizar. A essa transformação do protagonista trabalhador em espectador da cena que ele mesmo produz, Marx deu o nome de alienação.


1. alienação econômica: a alienação econômica tem a ver com o sentido, sentimento e pertencimento do trabalho. Há uma total separação entre o fazer e o resultado desse fazer. Ua separação entre o trabalho e o produto/ fruto do trabalho. Com o progresso técnico e o avanço das forças – forcas – produtivas, o ser humano tem que trabalhar cada vez mais para conseguir sobreviver com cada vez menos. É uma lógica cheia de contradições. A informalidade, a precarização do trabalho as várias esferas de terceirização da produção, são todos elementos que exemplificam a forma como o capital vai, pouco a pouco, destruindo as bases de reprodução de vida da maior parte da classe trabalhadora.

2. alienação política. A alienação política diz respeito ao sentir, sentimento e pertencimento ao projeto de poder consolidado. Há uma total separação entre democracia representativa e democracia participativa. Com o avanço do capital sobre o trabalho e a disputa entre a pretensa hegemonia do mesmo e a contra-hegemonia do grupo antagônico, o capital foi evidenciando ao mundo a distância existente entre discurso e prática. O discurso da inclusão e da participaação social nas sociedades capitalistas emana de uma prática real de exclusão, silenciamento, violência explicita/implícita daqueles que são contrários à sua forma de ver e relatar a ordem, a moral. A alienação política sustenta o jogo de poder nos espaços superestruturais de funcionamento do lógica do capital contra o trabalho. E reforça, assim, o vínculo cada vez mais formal entre a esfera privada de reprodução da vida do dominador e a esfera pública que a sustenta e retroalimenta.

3. alienação ideológico-cultural. Esta alienação tem como base reforçar os valores ético-materiais consonantes com sua práxis violenta de só permitir participar a partir das regras do jogo estabelecidas pelo grupo dominante. Esta alienação é introjetada cotidianamente nas nossas vidas a partir da indústria cultural e de todos os mecanismos utilizados por ela para trabalhar uma forma de dominação, subjetiva-objetiva, que ao invés de nos fazer questionar, nos faz repetir, reproduzir os elementos reiterados pela classe que está no poder. Essa forma de trabalhar o mesmo conteúdo de classe que as demais, é muito perversa porque toma os meios de comunicação, que não são democráticos nem determinados pela teoria crítica de permitir bons debates, e invade corpos e mentes com uma forma de definir conteúdos, práticas e verdades sobre determinados temas. A questão central aqui é disseminar a verdade da classe dominante contra qualquer coisa que possa contra-argumentá-la, quetioná-la. Tem a propriedade também de utilizar o roubo dos processos e dos conceitos daquilo que é produzido pela classe trabalhadora como algo que lhe pertence. Mercantiliza o criativo da nossa classe e o transforma em material a ser consumido por todos. Ou, por outro lado, diaboliza algumas ações de nossa classe e a transforma, nos meios massivos que têm, em ações de vândalos, criminosos.

Esses três mecanismos juntos, indissociáveis, expressam para nós a força da classe dominante no seu afã de se perpetuar historicamente no poder. Ora os mecanismos de destruição serão mais sutis, ora mais grotescos. Tudo dependerá da disputa, do enfrentamento, da forma como a classe trabalhadora estiver se organizando também no plano internacional, continental, nacional.

3º. PECADO: FETICHE
O fetiche, causa e conseqüência do mundo da alienação, foi o mecanismo concreto de manipulação dos donos do capital para a construção do mundo acorrentado dos homens pertencentes à classe trabalhadora. O fetiche se refere à impossibilidade de ver o fenômeno, as relações históricas, sociais, por trás das coisas. O fetiche faz da aparência, a essência das coisas. E a própria essência deixa de ser vista porque não convém ao mundo do capital a explicitação das múltiplas formas de dominação colocadas em prática por seus donos. O fetiche permite a reprodução ampliada a toda a sociedade, da concepção do capital como valor que se valoriza, desde uma forma específica de ser, estar, permanecer e continuar coisificados. O fetiche, elemento chave da alienação, joga com a capacidade de manter os sujeitos acorrentados. O mundo fetichizado assegura que as coisas sejam o que aparentam ser. Que a essência das coisas se resume a sua própria aparência. O fetiche da mercadoria é a ilusão colocada em movimento desde o nascimento do capitalismo, de que o trabalhador, força propulsora deste desenvolver histórico, era remunerado de modo a participar do jogo da reprodução do capital desde o consumo capitalista -. Por isso o dinheiro, papel moeda ou cartão de crédito, é a cartada maior dada pelo capital para materializar no tempo o fetiche. Essa ilusão foi, é, necessária para corroborar o modus operandi do capital -. Para isto, os mecanismos ideológicos do capital, através do fetiche, referendam o mercado como a entidade máxima de reprodução da própria vida, relegando as relações sociais às expectativas de pertença ou não ao mundo do consumo. Assim como ocorreu com a alienação, também o fetiche ganhou a proporção da vida cotidiana. Até porque não existe separação entre o mundo do trabalho e o mundo do sujeito. São espaços de reprodução da vida, ou da morte em vida, na sua totalidade. O que ocorre num espaço vai ocorrer necessariamente no outro. Perante a aparência dos frutos do trabalho, foi sendo consolidado todo o mundo cotidiano da aparência como essência. A aparência da pertença à sociedade do consumo, a aparência do corpo, a aparência da linguagem, a aparência coisificada dos sujeitos, véu completo da própria essência da vida. O fetiche é assim, o veículo propulsor da alienação e vice-versa. O fetiche é assim, a materialização nas coisas de um poder que, em realidade, está fora delas. As coisas, mercadorias, ganham um poder sobrenatural, e cada época terá seus poderosos produtos de consumo correspondentes à fase em que se encontram as forças produtivas e as relações sociais que a dão vida. O fetiche tem a capacidade de explicitar para todos que uma determinada mercadoria, ou várias, encarna um poder real. E a partir dessa encarnação, imobiliza todos os nervos e músculos contrários a sua propensão destruidora.

4º. PECADO: - ESTADO OPRESSOR
O controle político-ideológico é a forma de utilizar os múltiplos poderes, materiais e ideológicos, para acorrentar aos homens. Esta dominação põe em prática o poder da opressão, do não diálogo, da capacidade de convencimento (quando necessário abertamente violento) de que uns poucos dominam e os outros tantos, são dominados, manipulados. Pior, que dita dominação se da pelo dom, vocação de alguns em dominar e pela incapacidade de outros tantos exercerem o mesmo poder colocado no jogo. Mas, vale insistir: a classe burguesa domina para oprimir e oprime explorando. A dominação opressora transforma os sujeitos em espectadores, quando na verdade são protagonistas da própria vida e mesmo da vida que não os pertence. Isso é importante remarcar: o mundo do capital só existe porque os trabalhadores o erguem, mas a apropriação fica com os que detêm o poder. E o fazem isso a partir do violento e criminoso mecanismo do medo. Os dominadores instituem o medo como algo cotidiano e remetem à salvação espiritual a todos aqueles que não “tiveram capacidade, habilidade” suficiente para fazer parte do mundo do capital. Ou seja, utilizam a espiritualidade e afetividade como mecanismos poderosos de multiplicação do medo, da punição, da culpa. Assim, os Estados Nacionais, as igrejas, as escolas, as familias são, para os donos do poder, espaços reais de materialização da dominação opressiva. São os espaços de educação opressora. Os dominadores são necrófilos, pois, necessitam matar o humano para objetivar seu mundo das coisas. A morte em vida é a arma do dominador anti-dialógico, por natureza manipulador. A dominação utiliza todos os mecanismos institucionais e não institucionais para referendar os seus violentos abusos de poder. As leis, o sistema político que legisla e executa os procedimentos da vida cotidiana, são todos mecanismos a serviço do capital, enquanto sua classe é dominante, estando nós, classe trabalhadora, imersos nessa cotidiana luta por libertação, contestação, confrontação. Por isso o Estado, burguês, tem que ser visto como um inimigo formal. Produzido em leis e legitimidade pela classe dominante, vai operar com discursos de inclusão e práticas de exclusão postos em cena pelos grupos que ora pactuam ora disputam, no interior da classe dominante, o jogo de poder formal. Assim, através do formal, jurídico, parlamentar, policial e demais mecanismos super-estruturais, o violento recurso de utilização do poder de Estado contra a classe trabalhadora sem terra, sem teto, sem emprego ou com emprego precarizado, e demais sujeitos excluídos da dinâmica violenta e opressora do capital, será cotidianamente utilizado em benefício dos poucos sujeitos donos do poder.

5º. PECADO: DOMINAÇÃO CULTURAL
A dominação cultural é a capacidade (poder a partir da violência) que tem a classe dominadora, burguesa, de consolidar os costumes, regras e formas de comportamento a toda a sociedade, destruindo as formas particulares e instituindo a homogeneidade (padronização) do consumo e dos hábitos capitalistas como padrão universal. É por natureza violenta porque necessita destruir o que encontra para consolidar seu modelo social – material e ideológico - de ser, estar, permanecer e continuar subordinando o sujeito. A dominação cultural utiliza todas as armas que pode para pôr em prática a cultura do medo. Cala com as armas que tem – desde o poder institucional tanto o jurídico, como o legislativo e executivo são instrumentos táticos da invasão, e desde o social, os aparelhos policialescos, as etnias, os gêneros são instrumentos vivos da dominação violenta – e implementa novas armas para dar lugar ao seu afã de poder. A dominação cultural trabalha com os critérios de superioridade e inferioridade, julgando previamente os indivíduos de acordo com os padrões desenvolvidos por sua classe. Ela, a invasão cultural, é assim a arte de dominar, coisificar, manipular através das múltiplas formas de violência manifestas contra o humano. E na indústria do consumo, dos shoppings, diferencia as classes de acordo com a faixa salarial. De sujeitos ativos no processo de produção de vida, nos transformamos em categorias A, B, C, D e E no que diz respeito ao consumo e ao número de divisão de parcelas colocadas no mesmo. A separação de classe é fundamental para que os poderosos não se sintam ameaçados ou mesclados com os grupos que para eles são tidos como inferiores. A pobreza e a riqueza gerados pelo próprio modo de produção capitalistas são, subjetivamente, transformados em conquistas ou derrotas de sujeitos superiores e/ou inferiores no jogo da dominação. De uma arma construída e consolidada por uma classe contra outro ao longo da história, passa-se a projetar a idéia de que as conquistas econômicas e de apropriação privada da riqueza e da renda nacional, internacional, foi legítima e ilegal, quando em realidade foi a histórica perpetuação do roubo de classe.

6º. PECADO: FRAGMENTAÇÃO
A fragmentação é a forma de calar os resistentes, os rebeldes, que, desde a luta de classe querem organizar-se - ou já estavam organizados como o caso dos indígenas e negros latino-americanos - para dar o grito e, a partir, dele, projetar a libertação de classe. A fragmentação é o mecanismo de dissolução do poder da classe antagônica, os dominados, por parte da classe dominadora. É o critério utilizado para não permitir a organização da maioria contra o poder vigente. A fragmentação aposta na capacidade que tem os donos do capital para manipular e convencer os dominados sobre a fragilidade deste grupo, frente aos benefícios do mundo das coisas. E para isto, sustentam que não há mais historia, não há mais classes, logo, não há luta de classes. Isso é o que chamamos de ideário pós-moderno. Um ideário sustentado no fim do sujeito coletivo, do ser social, imerso e envolvido por convicção e desejo num projeto de classe. A classe dominante aposta na capacidade que têm seus mecanismos - fetiche, a alienação, a precariedade do mundo do trabalho, a exclusão e o medo – de jogar um peso fundamental na hora de calar, por si só, qualquer ameaça de rebeldia, revolução. Assim, é necessário fragmentar aos sujeitos, dividi-los, para poder oprimir mais. Os dominadores sabem que a unificação de nossos povos oprimidos põe em risco absoluto sua hegemonia. Por isso, atuam deliberadamente de forma a calar qualquer ameaça de união popular. A competição, o individualismo, o êxito, a produtividade são as variáveis fundamentais de corroboração do mundo desintegrado. Instituem estes conceitos na vida real, porque sabem que a articulação de classe destrói a possibilidade de seguir dominando de maneira violenta, como o fizeram ao longo dos séculos de civilização ocidental.

7º. PECADO: EXCLUSÃO
A exclusão é o resultado do modo de produção capitalista baseado na superexploração do trabalho, na desumanização do humano e na cada vez maior precariedade e marginalidade da maioria dos sujeitos que não serão incorporados a este sistema de acumulação. Se a superexploração é o mecanismo do modo de produção capitalista, a exclusão é o resultado deste mecanismo. A exclusão é a reiteração do conflito social entre pobres e ricos, entre dominadores e dominados, entre compressores e oprimidos. A exclusão é assim o resultado concreto de todas as formas anteriormente descritas, já que retrata a exclusão social vivida pelo sujeito, tanto nas suas potencialidades humanas como na própria vida (a antes denominada necrofilia, morte em vida) fazendo com que esta – a exclusão – seja constantemente banalizada. Os dominadores avançam no seu processo a partir da consolidação de um modo de desenvolvimento em que a maioria da população não tem condições de ser absorvida por este modo de produção capitalista, nem sequer entra num potencial exército industrial de reservas. Está excluída. Além disso, os dominadores através da precariedade do mundo do trabalho e da importância da ampliação do trabalho morto em contraposição ao trabalho vivo no setor formal da economia, vão utilizando todos os recursos que possuem para que os nossos grupos oprimidos, excluídos, acreditem nestas condições materiais como resultado de um processo natural e não socialmente constituído. Para dar concreção a esta condição, eles utilizam as questões de gênero, de etnias e de gerações – principalmente o tema da juventude na atualidade - como critérios fundamentais da exclusão. Consolidam todas as pautas éticas e morais deste modo de ser dos homens, subordinados ao jogo do capital. Insistem que não basta que consigam inserir-se no mundo formal do capital. Têm que possuir as características naturais do dominador. Assim, os negros e indígenas, as mulheres e as crianças de nossa classe, são sempre grupos inferiores vistos desde a esfera de poder dos brancos, homens, adultos bem sucedidos. A exclusão não é o mal do século, como argumentam alguns autores. É o mal do capital em si mesmo, desde o seu nascimento. A idéia é transformar todos em empreendedores individuais, e tudo em mercadoria a ser consumida e/ou apropriada dependendo do lugar que ocupamos na vida, se trabalhadores, ou burgueses. Vale a pena reitarar também que para o capital, basta que desejemos, enquanto classe, ocupar os mesmos espaços que a burguesia ocupa, para deflagrar o fim de um projeto de classe. Ou seja, não importa o consumo e sim o desejo de consumir; não importa a possibilidade real e sim o desejo de romper com a possibilidade real. Isso é tão perverso quanto a própria exclusão. É reiterar o sonho possível para todos, quando em realidade ele não foi projetado para ser realizado para grande parte da sociedade: os que vivem do fruto do seu trabalho e têm, ao longo da história, sido impedidos de ver, e/ ou entender, a realização do roubo efetivada pela classe burguesa em seu modo de atuar no poder contra e sobre o mundo do trabalho, dos que trabalham.

Em contraposição ao mundo explorador, alienador, fetichizador, controlador, dominador, fragmentador e excludente do capital, defendemos que muitos movimentos sociais-políticos de nosso continente têm hoje, como herdeiros dos lutadores de ontem, mecanismos concretos de ação emancipadora, contestatária, revolucionadora da ordem existente. Geradores dos conflitos em meio às mais fortes contradições manifestas entre o mundo do capital e o mundo do trabalho, estes movimentos, nós sujeitos ativos que os damos vida, vão/ vamos concretizando, desde a práxis de classe, a constituição do homem, mulher e sociedade novos, libertos, desacorrentados, revolucionariamente humanos. Desenvolveremos como contraponto aos 7 pecados do capital, o que caracterizamos como as sete virtudes do mundo do trabalho emancipado.


IV. O MUNDO DO TRABALHO (TRABALHO EMANCIPADO)

1ª. VIRTUDE: O TRABALHO
A recuperação do sentido do trabalho criativo como instrumento eminentemente humano, capaz de fazer com que o homem e a mulher se sobreponham, sem o afã de destruir os demais seres vivos e a natureza, a partir de sua capacidade de entrar numa relação humanizada com a vida e o sentido dado a ela. O trabalho como construção coletiva, desde a consolidação do valor colocado nos sujeitos e não nas coisas, muito menos no sujeito coisificado. O trabalho como vontade e consciência de criar as condições necessárias para a consolidação do vital: o trabalho criador da vida em vida e não da morte em vida, como expresso anteriormente nos pecados do capital. O trabalho como construção eminente do sujeito social. O trabalho coletivo como ruptura com a propriedade privada e a perspectiva individualista do lucro a qualquer custo. O trabalho coletivo como institucionalização do sentido comunitário, do valor da comum-unidade, da socialização tanto dos meios de produção, como dos bens produzidos. O trabalho como instrumento e ferramenta dos seres sociais a partir da ruptura com a alienação e o fetiche antes analisados. O trabalho como forma de realização do humano, para o humano, a partir da consciência e organização de classe que o projete desde a liberdade e não desde a histórica ferramenta da escravidão.

2ª. VIRTUDE: DEMOCRACIA POPULAR
A necessidade da construção coletiva de um projeto centrado na democracia participativa, real, a partir do diálogo consciente sobre o que se quer consolidar, viver, a partir do resignificado do poder, agora como classe em si e para si. . A democracia popular como ruptura com as formas de dominação impostas pela classe burguesa. A democracia popular como veículo de informação, formação e consolidação coletiva, desde a hegemonia da classe antes dominada, agora liberta. Democracia popular como ruptura com a verticalidade do poder e institucionalização de outros critérios verdadeiramente libertadores, emancipadores, por estarem pautados no diálogo, na formação, no trabalho voluntariamente coletivo. Democracia popular como igualdade de direitos, de oportunidades, de acesso aos bens e serviços e de liberdade para a decisão social de realização dos sujeitos. Entretanto, enquanto classe, temos que cuidar o tema do popular. Ele sempre existiu. Nós enquanto classe é que andamos, por uns tempos, separados, fragmentados, ora pelo capital, ora também pelas limitações do nosso mundo, o mundo do trabalho organizado de forma difusa, confusa, obtusa. A reconstrução coletiva do poder popular, requer uma retomada do sentido do que entendemos como popular. Além disso, merece uma caracterização cuidadosa desde as várias práticas e conteúdos que, enquanto classe, colocamos em movimento, tanto no campo, quanto nas cidades. Isso requer um cuidado na aproximação e na compreensão dos fenômenos criados por nós, enquanto classe. O que não podemos é cair em dois erros: 1. de vanguarda que organizará o popular; 2. de esquerda, esquerdista, que sabe como fazer. A humildade no reconhecimento do outro e na produção do nosso, coletivo, requer um cuidado histórico na elaboração do projeto popular cujo poder será emanado de vários e múltiplos processos cotidianos da resistência e da revolução em nosso País e continente. O que temos em comum, enquanto classe, é a criatividade e a consciência de que o que temos, nossas próprias vidas, cada vez menos nos pertencem. O que nos falta é a organização/articulação de classe, e consolidação de um projeto que nos unifique, identifique, enquanto classe, na unidade do diverso. Mas não podemos deixar de lado grande parte da criação produtiva do mundo do trabalho desenvolvida por nós, e por nossos aliados de classe, ao longo da história: o popular esteve e está presente no caráter de resistência e revolução latino-americano, a partir daquilo que foi e é vivido cotidianamente pelos grupos excluídos pelo capital, e pela forma como o trabalho foi encontrando, com seu conteúdo, maneiras de estar dentro, ou fora, desta dinâmica impositiva.

3ª. VIRTUDE: ENCONTRO SOLIDÁRIO
A realização de uma forma de estar com o outro sem pensar, organizar e concretizar os critérios perversos da opressão dentro de nossa classe. A certeza de criar mecanismos de participação e ação coletivos que não neguem as contradições, nem tão pouco a forma afetiva de revolucionar nosso modo de vida. Um encontro que dá primazia ao diálogo, à proximidade, à pertença, ao sentimento de vínculo direto do sujeito com os demais sujeitos, nisso que se define como ser social. Um encontro que desde o rebelar-se permanente contra qualquer injustiça, não legitima “um mundo onde caibam todos os mundos”, pois institui critérios que não aceitam os pecados capitais anteriormente mencionados. Estes pecados não têm lugar no horizonte de construção do mundo emancipado. Dar-receber; escutar-falar; produzir-compartilhar; são todos elementos centrais do encontro baseado na vida para todos e não na apropriação da vida por alguns. Também não há espaços, nesse encontro, para as diferenciações que marcam quem sabe e quem não sabe, quem é mais e quem é menos. Todos, ao serem incluídos, contribuem com algo e sairão com muito mais porque pertencentes a um projeto que realmente produz vida em vida. Uns chamam isso de utopia. Nós preferimos chamar de necessidade histórica de classe: a reintegração do humano naquilo que não separa, ser social, ser político, ser afetivo. Todos elementos constitutivos do ser integral vivendo em comunidade e protagonizando a cena de sua vida em aliança com os demais. E não estamos falando que não haverão conflitos, divergências, dissenso. Isto seria evidenciar a mediocridade. Estamos falando que estes elementos deverão ser contidos e combatidos com novos e renovados valores no interior da classe. Valores cuja razão e sensibilidade, unidos, darão o teor da construção coletiva, dos dissensos e, essencialmente, dos consensos na consolidação do poder popular.

4ª. VIRTUDE: AMOR
Uma virtude revolucionária de amar tudo o que é humano, vivo, e de recusar e indignar-se perante tudo o que é dominador, coisificador, manipulador, explorador. O amor enquanto recuperação da vida em vida e destruição dos mecanismos que reiteram nossas mortes em vida. Uma forma de instituir a proximidade com o outro, desde a possibilidade de um despir-se frente a ele, desde a capacidade de ser solidário com os nossos companheiros ao mesmo tempo em que nos indignamos e organizamos coletivamente contra os mecanismos de dominação antes expostos (7 pecados do capital). Um gesto revolucionário de assumir as contradições sem se sentir excluído. Uma capacidade de revalorizar o sentido do amor, da vida, do sonho e da construção do novo a partir da solidária manifestação de comum-unidade. O amor como o mecanismo vital de busca da felicidade individual e coletiva ao mesmo tempo. O amor ao trabalho, ao estudo, às virtudes do humano perante a cruel desumanização pecadora do capital. O amor na retomada do diálogo entre os companheiros da mesma classe, com a paciência histórica de perceber a coisificação sofrida por todos, ao longo destes séculos. Uma revolucionária capacidade de amar socialmente rompendo o medo de falar que nos coisificou, alienou, por tanto tempo, sem o temor à rejeição.

5ª. VIRTUDE: REVOLUÇÃO CULTURAL
A instauração de novos valores e novas construções éticas-morais a partir de um sentido concreto de pertencer à construção, dialogando sobre os conflitos sem negá-los e consolidando uma forma que dê harmonia entre a reflexão e a ação. A construção de novos padrões sociais pautados na coerência humana de discursar sobre o que se pretende viver enquanto se vive, e refletir coerentemente sobre este complexo mas vivo e ativo viver. Revolução cultural como ação criadora do novo homem, da nova mulher e da nova sociedade. Revolução social na reconstrução da totalidade do humano, reintegrado na sua relação consigo mesmo, com a natureza e com os demais seres humanos.

6ª. VIRTUDE: ESTUDO
A democratização do acesso ao conhecimento a partir da ruptura com a comercialização do setor educativo desde a mercantilização dos homens. O acesso aos livros, às artes, aos instrumentos de produção do conhecimento que são por sua vez reconhecimento da criação humana. A recuperação da formação do sujeito integral, amorosamente revolucionário, revolucionariamente amoroso. A renovação do amor ao estudo, do gozo pela leitura, do hábito de curiosamente conhecer como pensa o outro para, a partir do que nós pensamos, estabelecer um diálogo saboroso sobre as distintas visões de mundo que possuímos, imersos já num ambiente do homem descoisificado, liberto. Um verdadeiro exercício de refletir sobre a prática e de praticar em consonância com a reflexão. Um caminhar que não nega as contradições mas que nos faz, ao conhecê-las, eleger o melhor caminho desde as construções materiais e ideológicas revividas por um projeto popular construído por nossa classe.

7ª. VIRTUDE: EMANCIPAÇÃO
A capacidade de recuperar os sentidos humanos coisificados revertendo-os em sentidos humanizados. A revitalização do humano recuperado na sua dimensão renovada de construir em liberdade a partir da pertença a um projeto em que esteve integrado na sua planificação, organização, concretização. Homem, mulher, crianças, sociedade livres. Liberdade: este é o princípio mais importante do mundo da emancipação. Livres da propriedade privada, do lucro expropriador do trabalho, da dominação em suas várias formas, de todos os mecanismos de opressão. Libertos mas não anárquicos. Libertos mas com nossas regras, nossos valores, nossas construções consensadas. Uma emancipação dos sentidos que impulsiona o florescimento de uma renovada sensibilidade, pautada no humano e reativa, contestatária, do mundo alienante.

O que pretendemos com este exercício é dialogar sobre como vamos trabalhar, ainda em meio ao modo de produção capitalista, para romper com estes perversos e inumanos pecados do capital, ao mesmo tempo em que instituímos as virtudes da recuperação do humano. Esta tarefa de pensar e concretizar o novo, ou renovado projeto popular da classe trabalhadora, no momento em que se vive o alienado, e se vão consolidando os mecanismos de ruptura com o mesmo, é um processo de permanente movimento, e tem que ser entendido como tal. No sentido de que, enquanto processo histórico, nossa tarefa revolucionária é a de acumular forças para instituir o novo e ir, ao longo do caminho, aprendendo com as suas próprias experiências, lendo, interpretando e corrigindo os problemas e as dificuldades de implementação do mesmo. A luta de classes continua viva e latente. Nós, os oprimidos, não estamos totalmente oprimidos, nem tampouco totalmente alienados, totalmente excluídos. Mas estamos, sim, fragmentados. Essa talvez seja a maior dificuldade: a de articulação de classe. Assim, uma das tantas tarefas que temos que nos comprometer é a de voltar a unificar nossos esforços, no que caracterizamos como poder popular. Um poder que não nega a luta de classes. Pelo contrário. Um poder que potencializa o encontro desde todas as virtudes anunciadas neste texto preliminar.

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